Tivio Capital - Carta do Gestor | A Orquestra do Crédito Estruturado: Entendendo os FIDCs

Blog

Carta do Gestor

Carta do Gestor | A Orquestra do Crédito Estruturado: Entendendo os FIDCs

18/07/2025
Por: Gestão Tivio Capital

Introdução
Da Sinfonia Clássica à Arquitetura do Crédito Estruturado

 

Imagine uma orquestra sinfônica em plena execução. Cada naipe — cordas, metais, madeiras e percussão — tem sua identidade sonora, seu tempo de entrada e sua complexidade técnica.
No centro, o maestro não produz uma única nota, mas é ele quem, com precisão e sensibilidade, alinha os diversos timbres e dinâmicas em direção a uma obra coesa, vibrante e emocionante. Ele conhece as particularidades de cada instrumento, antecipa dissonâncias, conduz resoluções harmônicas, e sabe que a beleza do conjunto nasce do domínio minucioso das partes.

E o que uma orquestra sinfônica tem a ver com os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e com a nossa Carta do Gestor de Crédito Estruturado deste mês?

Muito mais do que parece. O gestor de um FIDC atua como um maestro do crédito estruturado: precisa compreender profundamente a composição de cada ativo, o risco embutido em cada cedente, a liquidez das operações, a solidez das garantias e a fluidez do fluxo de caixa. Seu papel é orquestrar esses elementos heterogêneos, equilibrando riscos e retornos, para transformar um conjunto complexo de instrumentos financeiros em uma performance sólida, estável e, idealmente, acima da média.

 

Esse mercado, por sua vez, não para de crescer. Segundo dados da Anbima, o patrimônio líquido dos FIDCs ultrapassou a marca de R$ 616 bilhões em 2024, superando os tradicionais fundos de ações — um crescimento superior a 39% em apenas doze meses. Esse avanço não é fortuito.

Ele sinaliza o amadurecimento de uma classe de ativos que, aos poucos, se consolida como uma engrenagem fundamental no financiamento da economia real brasileira.

Nesta Carta do Gestor, traçamos um panorama da “orquestra do crédito estruturado”: discutimos os principais movimentos do mercado de FIDCs, as oportunidades que surgem nos diferentes segmentos, os riscos latentes que exigem atenção e, sobretudo, como uma gestão ativa e diligente pode transformar desafios técnicos em geração de valor para o investidor. Porque, como numa grande sinfonia, o segredo está em entender quando silenciar, quando acelerar e — acima de tudo — quando liderar.

 

O Crescimento Notável dos FIDCs no Brasil

 

O mercado brasileiro de FIDCs percorreu um longo caminho desde suas origens no início dos anos 2000. O que começou como uma ferramenta para bancos e grandes empresas securitizarem suas carteiras de crédito evoluiu para um produto amplamente utilizado no mercado de capitais.

Inicialmente, as estruturas eram mais simples. Com o tempo, surgiram inovações como os FIDCs Não Padronizados (FIDC-NP), que permitem investir em créditos mais complexos, como aqueles já vencidos, ou que exigem uma expertise para além da análise de crédito.

Também se popularizaram os FIDCs multi-cedente/multi-sacado que diversificam o risco ao reunir créditos de diferentes empresas (cedentes) e devedores (sacados), muitas vezes diferentes tipos de lastro e que se tornaram fundamentais para o desenvolvimento da economia real.

Esse crescimento não se deve apenas ao volume de dinheiro buscando investimentos, mas também a melhorias importantes no ambiente de negócios. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), especialmente com a Resolução n.º 175 de 2022, trouxe regras mais claras e maior segurança jurídica.

 

Um dos motores desse crescimento é a necessidade das empresas por financiamento. Muitas vezes, o crédito bancário tradicional não supre por completo as necessidades específicas de um negócio. Os FIDCs surgem como uma alternativa flexível, capaz de se adaptar a diferentes fluxos de caixa e garantias, financiando desde o capital de giro até a expansão de projetos.

Com a expansão do mercado, vemos também uma especialização crescente entre os gestores. Alguns focam em nichos específicos – agronegócio, setor imobiliário, infraestrutura, créditos inadimplidos – já outros se especiliazam na gestão de fundos de investimentos em cotas de outros FIDCs ou também conhecidos como FIC-FIDCs.

 

 

Desvendando os Tipos e Estratégias de FIDCs

 

O universo dos FIDCs é vasto e variado. Entender os diferentes tipos e as estratégias por trás deles é crucial para quem deseja investir nesse mercado.

Como mencionado, uma distinção importante é entre FIDCs Padronizados e Não Padronizados (FIDC-NP). Os Padronizados investem em direitos creditórios mais “comuns”, com características semelhantes. Já os FIDC-NPs abrem portas para ativos mais complexos, como créditos vencidos, em disputa judicial ou precatórios. Essa flexibilidade permite financiar
uma gama maior de atividades econômicas, mas exige uma análise de risco ainda mais
rigorosa por parte do gestor.

Existem FIDCs para quase todas as fases e necessidades de uma empresa: financiar um novo projeto, fornecer capital de giro, comprar equipamentos, ou mesmo descontar recebíveis para acelerar o crescimento. Há também os fundos focados em empresas em dificuldade financeira, conhecidos como Special Situations.

Nesses casos, os gestores não apenas investem, mas muitas vezes participam ativamente da reestruturação e das decisões estratégicas da empresa investida. Outros FIDCs se especializam em comprar precatórios (dívidas do governo reconhecidas pela justiça) ou outros ativos públicos. As possibilidades são muitas.

 

 

Essa diversidade exige um conhecimento profundo por parte do gestor. Não basta entender de finanças; é preciso compreender as particularidades de cada setor, as leis aplicáveis e, principalmente, avaliar a qualidade do crédito e das garantias oferecidas. É um trabalho que exige diligência e expertise técnica, muito além da análise superficial.

 

A Estrutura de Proteção: Cotas Seniores, Mezanino e Subordinadas

 

Um conceito fundamental nos FIDCs é a estrutura de cotas, que funciona como um sistema de proteção em camadas. Geralmente, um FIDC emite três tipos de cotas:

 

 

Essa estrutura, conhecida como “subordinação” ou “cascata de pagamentos”, cria um colchão de proteção para as cotas seniores e mezanino. A espessura dessa camada de subordinação (o percentual do patrimônio do fundo composto por cotas subordinadas) é um indicador importante da segurança do investimento nas cotas superiores.

Escolher o tipo de FIDC e a classe de cota depende dos seus objetivos, tolerância a risco e horizonte de investimento. Para nós, da Tivio Capital, a arte está em analisar cada detalhe dessa estrutura, entender as nuances de cada crédito e combinar esses elementos para construir portfólios sólidos e rentáveis.

 

Alocação Estratégica: Por que incluir FIDCs no Seu Portfólio?

 

Diversificação e Correlação:

Uma das grandes vantagens dos FIDCs é sua baixa correlação com outras classes de ativos. O desempenho deles tende a não seguir exatamente os movimentos da bolsa de valores (renda variável) e tem uma relação apenas moderada com os títulos de renda fixa tradicionais. Isso significa que, ao adicionar FIDCs ao seu portfólio, você pode reduzir a volatilidade geral da sua carteira sem necessariamente renunciar a bons retornos.

 

 

Historicamente, as cotas seniores de FIDCs têm apresentado retornos consistentes e, muitas vezes, superiores a diversos benchmarks do mercado, como o CDI, a Selic e até mesmo alguns índices de renda fixa (como o IRF-M e o IMA-B) e multimercados (IHFA). Embora comparações diretas exijam cautela devido às especificidades de cada FIDC, a combinação de prêmios de crédito e a proteção oferecida pela subordinação das outras cotas contribui para esse desempenho atrativo. A estrutura de subordinação funciona como um escudo: as primeiras perdas são absorvidas pelas cotas subordinadas, protegendo quem investiu nas cotas seniores e mezaninos.

 

Menor Volatilidade Aparente (Marcação na Curva)

Diferente de muitos ativos de crédito, como as debêntures, as cotas de FIDCs geralmente não são “marcadas a mercado” diariamente. Elas são “marcadas na curva”, o que significa que seu valor é ajustado de forma mais gradual, baseado na expectativa de recebimento dos fluxos de caixa futuros. Isso resulta em uma volatilidade visível menor no dia a dia, o que pode ser interessante para investidores que buscam mais estabilidade em suas posições de crédito privado. Contudo, é crucial entender que a menor volatilidade aparente não elimina o risco de crédito subjacente.

 

 

 

Benefícios Tributários

Um atrativo adicional, FIDCs não estão sujeitos ao “come-cotas”, aquela antecipação semestral do Imposto de Renda que incide sobre a maioria dos fundos de investimento. Isso permite que o capital permaneça investido e rendendo por mais tempo, potencializando o efeito dos juros compostos.

 

 

Liquidez e Prêmio

É verdade que FIDCs são, em geral, menos líquidos que ações ou títulos públicos. Vender uma cota antes do vencimento pode não ser tão simples. No entanto, essa menor liquidez costuma ser recompensada com um “prêmio”, ou seja, um retorno adicional embutido na taxa oferecida. Para investidores com um horizonte de investimento mais longo e que não precisam de acesso imediato ao capital, alocar uma parte do portfólio em FIDCs pode ser uma forma inteligente de capturar esse prêmio de iliquidez.

Oportunidades em Diferentes Cenários

A diversidade dos FIDCs permite encontrar oportunidades em diferentes ciclos econômicos. Em fases de crescimento, FIDCs ligados a setores mais dinâmicos podem se destacar. Em momentos de desaceleração, aqueles com garantias mais fortes ou ligados a setores essenciais tendem a ser mais resilientes. A chave está na diversificação dentro do próprio universo de FIDCs, investindo em diferentes tipos, setores e estruturas de cotas.

 

Capítulo 5

Tivio Capital e a Família ALT em Crédito Estruturado

 

 

Para investidores qualificados ou profissionais, os FIDCs representamuma ferramenta valiosa para buscar retornos consistentes, diversificar riscos e acessar estratégias de crédito que antes eram restritas a investidores institucionais. Veículos como o nosso fundo ALT 180, que aloca em FIDCs, ajudam a democratizar o acesso a essas oportunidades.

 

Conclusão
Perspectivas Para o Crédito Estruturado e Nosso Papel De Maestro Na Orquestra do Crédito Estruturado

 

O mercado de FIDCs continua sua trajetória de crescimento e sofisticação, e as perspectivas são animadoras. A combinação de empresas buscando financiamento alternativo e investidores procurando retornos atrativos deve manter o dinamismo do setor.

A regulação, como a Resolução CVM 175, continua a fortalecer a segurança e a transparência, pilares essenciais para o crescimento sustentável do mercado de FIDCs. Contudo, o cenário atual nos apresenta um paradoxo interessante. Enquanto a liquidez abundante e a busca por emissões no mercado de capitais tradicional têm pressionado os spreads de crédito para níveis historicamente baixos, nem sempre refletindo adequadamente o risco de algumas emissões, surge uma janela de oportunidade para os FIDCs. Observamos que, no cenário atual excelentes oportunidades de crédito estruturado, com ótimas relações de risco-retorno, acabam sendo deixadas de lado. É justamente nesse espaço, fora dos holofotes do mercado mais líquido, que uma gestão especializada em FIDCS pode encontrar e estruturar operações de grande valor, capturando prêmios mais justos pelo risco assumido.

Essa dinâmica reforça a importância de uma análise criteriosa, transformando um aparente desafio do mercado em uma vantagem estratégica para nossos investidores. É aqui que a expertise do gestor se torna crucial.

Nosso papel na Tivio Capital vai além de simplesmente selecionar ativos. Envolve uma análise profunda de cada operação, uma compreensão das garantias, uma avaliação rigorosa do crédito e uma estruturação cuidadosa. Exige também um acompanhamento constante das empresas e dos setores investidos.

O universo dos FIDCs é fascinante pela sua complexidade e potencial. Continuaremos dedicados a orquestrar esses instrumentos com a precisão e a sensibilidade necessárias para entregar resultados consistentes e agregar valor aos portfólios dos nossos clientes.

Atenciosamente,

Katherine Kardos

 

 


Compartilhe: