O Brasil e sua vocação natural para liderar a revolução energética global
A transformação de um deserto em uma floresta exuberante é a essência da história de Elzéard Bouffier, o protagonista do conto inspirador “O Homem que Plantava Árvores”, escrito por Jean Giono em 1953 e publicado como livro em 1980. Bouffier, um pastor solitário, dedicou décadas de sua vida a plantar centenas de milhares de árvores em uma região desolada da França. Sua persistência e visão transformaram completamente a paisagem, revitalizando a área com vida, biodiversidade e prosperidade.
A história começa com um narrador anônimo encontrando Bouffier durante uma caminhada por uma terra árida e desolada na França. Ao longo dos anos, o narrador retorna várias vezes àquela região e, a cada visita, testemunha a notável transformação causada pelo trabalho incansável de Bouffier.
Bouffier plantava árvores de diversas espécies, semeando também esperança e renovação. Eventualmente, a floresta criada por Bouffier trouxe água de volta às fontes secas ao longo dos anos, transformou o clima local, e fez com que as pessoas voltassem a habitar e a prosperar na região. Bouffier encontrou sua vocação natural.
E o que esse livro tem a ver com o nosso Deep Dive desse mês? Assim como Bouffier, o Brasil possui a capacidade e vocação de liderar uma transformação monumental, desta vez no campo energético. Os biocombustíveis, uma fonte renovável de energia e um dos pilares dessa transformação, posicionam o Brasil como um protagonista na revolução energética global, especialmente no setor dos transportes.
Este não é um movimento recente; desde a década de 1970, com o lançamento do programa Proálcool tendo o intuito de contornar a primeira crise do petróleo, o Brasil tem sido pioneiro no desenvolvimento e uso de biocombustíveis, demonstrando resiliência e inovação ao longo dos anos.
O Brasil possui hoje uma combinação única de fatores para a produção de biocombustíveis. Possui larga disponibilidade de terras aráveis, abundância de matérias-primas, políticas de suporte à produção, e demanda robusta considerando que o meio de transporte principal no país é o rodoviário.
Tal como Bouffier começou sua missão plantando uma árvore de cada vez, nós da Tivio Capital acreditamos que a jornada para a transição energética global precisa de protagonistas e por isso um dos nossos fundos será focado em transição energética, com o segmento de biocombustíveis sendo uma das nossas teses centrais.
Essa série de relatórios será dedicada a explorar detalhadamente os biocombustíveis, demonstrando o potencial do Brasil no segmento e como esses combustíveis do futuro podem impulsionar a revolução energética no país e no mundo, contribuindo para os objetivos globais de atingir o Net Zero até 2050.
Biocombustíveis, Os Combustíveis do Futuro
Nessa primeira edição da série de relatórios Deep Dive dedicados ao setor de biocombustíveis, nós abordamos os conceitos fundamentais do setor. Destacamos os principais tipos de biocombustíveis, matérias-primas fundamentais para produção, como são produzidos, principais vantagens e riscos, e políticas vigentes no Brasil e no mundo. Nas próximas edições, nosso intuito é mostrar os motivos pelos quais o Brasil está muito bem posicionado nesse setor, e o potencial de cada um dos principais biocombustíveis existentes.
Biocombustíveis são combustíveis renováveis derivados de matéria orgânica como biomassa, óleo vegetal, gordura animal e lixo orgânico. São considerados combustíveis do futuro por terem um impacto menor em GGE (gases de efeito estufa) e um ciclo de formação e produção muito mais curto quando comparado aos combustíveis fósseis. Nossa série focará nos seis principais tipos de biocombustíveis atuais: i) etanol; ii) biodiesel; iii) diesel verde (HVO); iv) biogás; v) bio-metano; e vi) SAF (combustível de aviação sustentável). Os biocombustíveis são divididos em quatro gerações de acordo com o tipo de cultura (comestível, não comestível, algas, e sintéticos), sendo o nosso foco nessa série nas duas primeiras gerações (1G e 2G).
A história dos biocombustíveis é mais antiga do que imaginamos, apesar de serem considerados combustíveis do futuro. Os biocombustíveis já eram usados na geração de luz pelas antigas civilizações, como no Egito por volta de 2000 BCE. Na era moderna, os primeiros motores movidos a óleo vegetal começaram no século 19, com Rudolf Diesel desenvolvendo um motor a óleo de amendoim, e na segunda guerra mundial quando a cadeia de fornecimento de petróleo foi prejudicada. No Brasil, os biocombustíveis já são utilizados desde a década de 70, quando iniciamos o programa Proálcool para contornar a crise do petróleo em 1973. Hoje o Brasil é o segundo maior player de etanol no mundo, e o terceiro maior produtor de biodiesel globalmente.
Os biocombustíveis possuem diversos benefícios com aplicações mais comuns na indústria de transportes, apesar de serem também utilizados em âmbito industrial. Os biocombustíveis como etanol e biogás são produzidos em 6-24 meses, significativamente mais rápido que os milhões de anos necessários para a produção de combustíveis fósseis como carvão mineral, petróleo e gás natural. Em termos de impacto em emissões de GEE, um veículo ICE (internal combustion engine) flex movido a etanol no Brasil emite 58g de CO2 equivalente por km rodado, 60% menor do que os 145g gerados por um veículo ICE movido a gasolina.
Biocombustíveis possuem pontos de atenção, com o mais comum sendo à sua competição direta com a produção de alimentos. Biocombustíveis usualmente são vistos como potencial ameaça à produção de alimentos, especialmente considerando que podem competir diretamente por terras destinadas à produção destes. No entanto, hoje no Brasil apenas 16% da terra arável total é cultivada (vs. 70% no U.S e 100% na China). A cana-de-açúcar, por exemplo, ocupa menos de 3% da terra destinada ao cultivo de alimentos, demonstrando que as culturas atreladas à biocombustíveis tem ainda muito espaço para crescer. Por fim, outro ponto de atenção é que os biocombustíveis podem ser mais poluentes que combustíveis fósseis se considerarmos o CO2 equivalente relacionado à desmatamento, fertilizantes, e maquinário agrícola.
Estamos sempre à disposição para esclarecimento de dúvidas dos nossos clientes e parceiros.
EQUIPE TIVIO CAPITAL
Fontes:
Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA)
BTG Pactual
Energy Institute
Empresa de Pesquisa Energética (EPE)
Food and Agriculture Organization (FAO)
Globiom Study
International Energy Agency
Oliver Wyman Analysis
Royal Academy of Engineering
Tivio Capital